A PIDE e o passeio ultramarino
Nasci em meio rústico e humilde, amando o milagre da vida e o mistério fascinante da Natureza de abrangência imediata e o firmamento incomensurável: parecia vaguear no mundo dos fenómenos.
Uma curiosidade contínua acossava-me a todo o momento: isto é um puro mundo mecânico onde, embora patente uma beleza indiscritivel, faltando coordenadas extra-mecânicas, como a Justiça e o Bem?
Ou seres superiores, funcionando em campos de frequência indetectável e matéria não convencional, não seriam os arquitectos deste milagre ilimitado, com leis intelegentíssimas, onde estivesses patentes a imanência moral e um sentimento profundo da vida, para além de explicações meramente académicas?
Fui crescendo com anseios de verdade, necessidade de expansão e de transcendência de dúvidas, que permitissem desenquadrar-me de horizontes chocarreiros e frustração essencial. Uma compulsão, incitava-me a procurar a verdade e funcionava como fermento de crescimento e factor de algum amadurecimento.
Fiz a primeira comunhão solene, na igreja da terra natal, Pinheiro de Ázere (S. Comba Dão), tentando perscrutar o significado do conteúdo do grosso catecismo vigente. Embora exigente, tinha fé infantil com pouca mácula de dúvida até ao dia em que eventualmente viesse a compreender. Anos volvidos, apareceu na freguesia, um padre, Aires Mendes da Silva, natural de Carvalhal Redondo (Nelas), cuja primeira medida foi aumentar a congrua pascal. Meu pai e alguns outros paroquianos não concordaram, mas desejando sempre pagar a mesma sem tal aumento. O padre, não aceitando, levou a que meu Pai deixasse de a pagar. Eis que o mesmo, em pleno púlpito, começa a invectivar e a nomear os não conformados, criando clima de crispação. (continuação...)
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